Voltar ou nao voltar?

Estava no messenger conversando com um amigo que mora no Brasil. Ele me perguntou se eu pretendia um dia voltar para o Brasil... e eu respondi o que eu sempre pensei: sim, pretendo voltar para o Brasil em 2 ou 3 anos para poder trabalhar lah.... Ai ele me respondeu: "acho que vc nao vai se acostumar mais aqui..."
Morar nos Estados Unidos para o resto da minha vida nunca foi minha prioridade. Sempre penso que estou aqui para adquirir experiencias profissionais e tenho vontade de aplicar os meus conhecimentos no Brasil, onde eu nasci, cresci e fui educada, e principalmente, onde a minha familia mora!
Mas a inseguranca do retorno tambem me incomoda.... vai ter que ser uma decisao tomada com muita calma.... Pois jah estou fora do Brasil desde 2001. Muitas coisas devem ter mudado em todos os sentidos. Tambem tenho a consciencia de que a gente soh sente saudades das coisas boas da nossa terra... e se esquece das ruins...
Terei que colocar tudo na balanca e analisar.
Coincidentemente, essa semana recebi um artigo que fala exatamente sobre isso. Engracao de que texto me "relembrou" (pois eu jah tinha aprendido no passado, mas tinha esquecido) de que essa minha inseguranca eh um processo natural de adaptacao das pessoas a um ambiente novo.
Eh... vivendo e aprendendo e reaprendendo... sempre!
Enfrentando as mudanças (Por Juliana Melo)
Ficar cara-a-cara com os conflitos que envolvem morar num país estrangeiro ou retornar ao Brasil facilita a adaptação ao novo. Em São Paulo, Instituto de Psicologia da USP oferece apoio a pessoas que vão viver ou já viveram no exterior.
Mudar para o exterior ou retornar ao país de origem após viver alguns anos fora não é uma decisão muito fácil. Se por um lado, aventurar-se num país desconhecido traz realização financeira e novas experiências, por outro, envolve a separação de familiares, amigos e a revisão de valores pessoais e culturais. A mudança nem sempre acontece de forma natural e pode causar arrependimento, estresse e ansiedade. "Em casos mais graves, quando a pessoa está despreparada, pode levar até à depressão", explica a psicóloga Sylvia Dantas DeBiaggi. Sylvia é coordenadora do Serviço de Orientação Intercultural da USP, um ambulatório que auxilia gratuitamente aqueles que planejam mudar para o exterior, e imigrantes que retornaram ao Brasil. "Nossa proposta é clarear as idéias das pessoas em relação às mudanças, orientando-as a lidar de forma natural com os sentimentos gerados pela imigração ou pela volta à sua terra natal". Segundo a psicóloga, a maioria das pessoas que procura o atendimento sabe que ao entrar em contato com outra cultura sofrerá influências na forma de pensar, de sentir e de agir, mas não entende muito bem como lidará com esses sentimentos. Os pacientes são colocados frente-a-frente com sua decisão. "Ele terá oportunidade de refletir sobre sua escolha e pensar nas conseqüências, como a saudade, os conflitos de identidade, as dificuldades de adaptação, enfim, etapas que podem ser facilmente vencidas, desde que a pessoa esteja preparada".
As armadilhas da imigração
A publicitária Ana Caroline Barreto estava tão empolgada com a idéia de morar em Nova York que não conseguia pensar em mais nada. "Logo que cheguei foi um corre-corre. Estava preocupada em me instalar na nova casa, arrumar um emprego e fazer a América", conta. À medida que o tempo foi passando, a realidade veio à tona. Caroline passou a detestar os períodos em que não estava trabalhando: "nas horas livres, só pensava em voltar para o Brasil; achava as pessoas frias demais, tive insônia e tinha a impressão que estava pagando um preço muito alto pela minha escolha".
O caso da publicitária é uma das tantas armadilhas psicológicas da imigração. "Depois que o período de empolgação passa, os conflitos e questionamentos aparecem", fala Sylvia. "A confusão emocional é normal e acontece com muitas pessoas que imigram, como resposta às dificuldades de adaptação, à saudade da família, aos riscos de trabalhar ilegalmente num país desconhecido", explica. De acordo com a coordenadora, não são raros os casos de pessoas que procuram o Serviço de Orientação Cultural com uma motivação frágil para sair do Brasil. "Há quem resolva morar no exterior para fugir de situações complicadas, como violência e problemas de família, encarando o distanciamento como solução", fala. A psicóloga explica que a idealização é a grande vilã na vida desses imigrantes. "Pensam que no Brasil vai ficar tudo de ruim e no exterior os problemas serão solucionados; mas infelizmente, as coisas não são bem assim", diz. "Fazer uma opção consciente, pesando as perdas e ganhos da escolha e avaliando os reais motivos da imigração é a melhor forma de escapar das frustrações no futuro".
A volta para o Brasil
Retornar é uma nova migração. Já não se é mais aquele que foi e o que ficou também mudou. "A migração de retorno constitui uma experiência estressante", enfatiza. Muitas vezes, a família é motivo de conflito e decepção, e o contraste entre o sistema americano e brasileiro emerge como fator contribuinte à difícil readaptação no país natal. "Você está voltando diferente, e a maneira das pessoas te verem também é diferente". Foi o que sentiu Mauro Luiz Cerqueira no início de abril, quando retornou ao Brasil após passar 5 anos em Connecticut. "Me senti deslocado dentro da casa dos meus pais; as pessoas já não eram as mesmas e houve muita cobrança em relação à minha condição financeira, pois todos achavam que eu tinha que ter voltado rico depois de morar tanto tempo nos Estados Unidos", brinca. Apesar do bom-humor, Mauro teve que procurar ajuda psicológica para lidar com as mudanças. "Por mais que tenha sentido dificuldades quando me mudei para a América, a volta foi pior. No começo, estava desempregado, então passava o dia dentro de casa, sentindo que estava `sobrando'. Pra agravar mais a situação, me sentia mal por sentir saudades dos Estados Unidos e querer deixar aquele `mundinho' familiar o mais rápido possível". Querer voltar por acreditar que está se encaixando melhor no exterior do que no Brasil é novamente um processo de adaptação. "É no retorno que a pessoa se dará conta do quanto mudou. E isso gera confusão: quem sou eu? Apesar de nos Estados Unidos eu ser visto como estrangeiro, é no Brasil que me sinto estrangeiro", exemplifica a psicóloga, destacando que essa é uma das causas do estresse do retorno.
Para quem volta pra casa, enfrentar uma situação de frustração, como ficar desempregado, remete ao projeto de reimigração. "A parte negativa de viver no exterior fica esquecida, e a parte positiva, enaltecida". O mesmo acontece com a família. "Quando se está longe, a família fica ótima, só que ao retornar, a situação é outra, pois todos têm diferenças e problemas". É possível enfrentar tudo isso sozinho? Segundo Sylvia DeBiaggi, a resposta é sim. É possível enfrentar todas as mudanças da imigração, sem que seja necessário buscar auxílio de especialistas. "O imigrante precisa ter consciência das implicações que sua decisão terá no seu dia-a-dia e entender que os conflitos fazem parte da adaptação ao novo ou ao velho ambiente".
No Serviço de Orientação
Intercultural da USP, a proposta é que os psicólogos atuem como facilitadores no entendimento do processo gerado pela mudança. "São profissionais que possuem vivência no assunto, porque são descendentes de imigrantes ou porque já moraram no exterior, e entendem perfeitamente o que os pacientes estão passando", ressalta. No atendimento a grupos de imigrantes retornados, a equipe trabalha as questões que motivaram a ida para o exterior, as redes sociais do Brasil e dos EUA, os vínculos que se formaram no exterior e que se desfizeram ou estão se desfazendo, aculturação psicológica, valores, formas de ser e pensar, vivências e integração dos dois mundos. "As pessoas ficam muito aliviadas ao perceberem que isso é um processo natural pelo qual a maior parte das pessoas passa", diz Sylvia. "No grupo, percebem que outras pessoas também estão passando por esse momento de conflito, que não estão sozinhas, e que é um processo natural da vivência intercultural", finaliza.